Can​ç​õ​es Para Abreviar Dist​â​ncias

by Isabella Bretz

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1.
na hora de pôr a mesa, éramos cinco: o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs e eu. depois, a minha irmã mais velha casou-se. depois, a minha irmã mais nova casou-se. depois, o meu pai morreu. Hoje, na hora de pôr a mesa, somos cinco, menos a minha irmã mais velha que está na casa dela, menos a minha irmã mais nova que está na casa dela, menos o meu pai, menos a minha mãe viúva. cada um deles é um lugar vazio nesta mesa onde como sozinho. mas irão estar sempre aqui. na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco. enquanto um de nós estiver vivo, seremos sempre cinco. José Luís Peixoto - A Criança em Ruínas Portugal
2.
O Cercado 02:20
De que cor era o meu cinto de missangas, mãe feito pelas tuas mãos e fios do teu cabelo cortado na lua cheia guardado do cacimbo no cesto trançado das coisas da avó Onde está a panela do provérbio, mãe a das três pernas e asa partida que me deste antes das chuvas grandes no dia do noivado De que cor era a minha voz, mãe quando anunciava a manhã junto à cascata e descia devagarinho pelos dias Onde está o tempo prometido p'ra viver, mãe se tudo se guarda e recolhe no tempo da espera p'ra lá do cercado (Dizes-me coisas amargas como os frutos)
3.
Espiral 03:38
No oculto do ventre, o feto se explica como o Homem: em si mesmo enrolado para caber no que ainda vai ser. Corpo ansiando ser barco, água sonhando dormir, colo em si mesmo encontrado. Na espiral do feto, o novelo do afecto ensaia o seu primeiro infinito. Mia Couto - No livro “Tradutor de Chuvas” Moçambique
4.
Ai se um dia 03:03
Ai se em outubro chovesse A terra molhasse O milho crescesse E a fome acabasse Ai se o milho crescesse A fome acabasse O homem sorrisse E a terra molhasse Ai se o homem sorrisse a terra molhasse a fome acabasse e a chuva caísse ai se um dia… acordemos camaradas as chuvas de outubro não existem o que existe é o suor cansado dos homens que querem o que existe é a busca constante do pão que abundante virá homens, mulheres, crianças na pátria livre libertada plantando mil milharais serão a chuva caindo na nossa terra explorada Vera Duarte- Cabo Verde
5.
Poemar 03:17
Poemar é amar o mar Poemar é revestir o ser Com o próprio pensamento É trazer à superfície O subconsciente É ser vidente É ser viandante É amar a dor E dar calor Ao frio da noite. Poemar é dar prazer ao ser É estar contente Por poder amar E poemar é amor Poemar é amar Quando ao luar O mar e a mente se entrelaçam Quando a dor e o calor se confundem... Poemar é amor É amar É mar E é dor também
6.
Lembra os dias antigos Em que cantavas a pureza Na nudez dos teus passos e gestos Ou dançavas na inocente vaidade Ao som dos «babadok». Relembra as trevas da tua inquietação E o silêncio das tuas expectativas, As chuvas, as memórias heróicas, Os milagres telúricos, Os fantasmas e os temores. Tenta lembrar a herança milenar dos teus avós Traduzida em sabedoria E verdade de todos. Recorda a festa das colheitas, A harmonia dos teus Ritos, A lição antiga da liberdade, Filha da natureza. Recorda a tua fé guerreira, A lealdade, E a ternura do teu lar sem limites, Nos caminhos do inesperado Ou no improviso da partilha definitiva. Lembra pela última vez Que a história da tua ancestralidade É a história da tua Terra Mãe…
7.
O que precisa nascer tem sua raiz em chão de casa velha. À sua necessidade o piso cede, estalam rachaduras nas paredes, os caixões de janela se desprendem. O que precisa nascer aparece no sonho buscando frinchas no teto, réstias de luz e ar. Sei muito bem do que este sonho fala e a quem pode me dar peço coragem.
8.
Transitório 06:20
Transitório é este tempo que te divide sem o saberes transitórias as águas, os tambores quebrados transitória a noite que à noite sucede sem te veres Transitória a pálida bruma a ocultar-te de ti transitório o silêncio ocupando espaços além da tua boca transitórias as pedras amargas desaguando sem licença no litoral da aurora, transitória a angústia das palavras ensanguentadas em tuas mãos. Obstinado peregrino quem te acompanha além de ti? Emissário de rios esquecidos quem te ouve? Oh, surdas são as ondas deste mar suspenso entre os teus dedos e o teu sonho Conceição Lima - São Tomé e Príncipe

about

“Canções Para Abreviar Distâncias: uma viagem pela língua portuguesa” traz 8 poemas musicados, cada um de um país falante do português, sendo todos de escritores vivos: Adélia Prado (Brasil), José Luís Peixoto (Portugal), Mia Couto, (Moçambique), Conceição Lima (São Tomé e Príncipe), Vera Duarte Pina (Cabo Verde), Odete Semedo (Guiné-Bissau) Ana Paula Tavares (Angola) e Crisódio T. Araújo (Timor-Leste). Produzido por Isabella Bretz e Rodrigo Lana e co-produzido por Matheus Félix em parceria com o Música Mundi, o projeto recebeu o apoio institucional da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). A capa foi feita por Jackson Abacatu e 8 artistas brasileiros representaram os textos em ilustrações. Assim, com palavras, imagens e sons, em meio a distâncias geográficas e temporais, a linguagem se faz um grande vínculo, mostrando anseios comuns que nos unem.

“Songs To Shorten Distances: a journey through the Portuguese language” brings 8 poems put into music, each from a Portuguese-speaking country, all of them by living writers: Adélia Prado (Brazil), José Luís Peixoto (Portugal), Mia Couto (Mozambique), Conceição Lima (Sao Tome and Principe), Vera Duarte Pina (Cape Verde), Odete Semedo (Guinea-Bissau) Ana Paula Tavares (Angola) and Crisódio T. Araújo (Timor-Leste). Produced by Isabella Bretz and Rodrigo Lana and co-produced by Matheus Félix in partnership with Música Mundi, the project received institutional support from the Community of Portuguese Speaking Countries (CPLP). The album cover was done by Jackson Abacatu and 8 Brazilian artists represented the texts in illustrations. Thus, with words, images and sounds, amid geographic and temporal distances, language becomes a great bond, showing common yearnings that unite us.

credits

released October 1, 2017

Poemas musicados por Isabella Bretz [Poemar e Transitório musicados por Isabella Bretz, Rodrigo Lana e Matheus Félix].
Produção Musical: Rodrigo Lana e Isabella Bretz
Coprodução musical: Matheus Félix
Arranjos: Rodrigo Lana, Matheus Félix e Isabella Bretz
Idealização e Produção Executiva: Isabella Bretz
Gravação, mixagem e masterização: Rodrigo Lana
Ilustrações da capa e contracapa: Jackson Abacatu
Realizado entre Janeiro e Setembro de 2017, no Música Mundi, Belo Horizonte, Brasil.

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Isabella Bretz Portugal

Cantora, compositora, produtora cultural e analista internacional. Coautora do livro "Conhecimentos de Áudio Para Cantores" e cocriadora do Sonora - Festival Internacional de Compositoras.

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